Ainda que me definir por completo em uma única arte seja impossível, o trabalho realizado visa retratar uma característica que acredito ser a grande responsável por muitas escolhas que faço ao longo da vida, pelo meu modo de agir, pela minha vocação e por diversos traços da minha personalidade. Consegui através deste projeto tridimensional representar defeito e qualidade. Sou uma pessoa com ideais e propósitos claros, sou fascinado com a criatividade e pelo desafio de ter idéias “fora da casinha”, porém também faz parte de mim a insegurança que muita das vezes me impede de externar e traduzir aquilo que eu realmente penso, creio e idealizo no meu subconsciente. Isso me faz questionar a minha capacidade, é como uma prisão pensar demais e não conseguir me expressar. A maneira que encontrei de botar para fora minhas convicções foi através da arte. Me sinto seguro para praticar aquilo que idealizo, é como se tivesse vindo para mostrar que sou capaz de tudo. No trabalho em questão tem-se uma cabeça repleta de ideias as quais o indivíduo responsável por estas não é capaz de traduzi-las através do principal meio de expressão que é a fala, entretanto sua mão é sim qualificada para isto, transformando aqueles pensamentos em coisas reais e palpáveis. A arte liberta.

As estratégias físicas utilizadas para corresponder às minhas escolhas conceituais não necessariamente tiveram uma relação de afetividade minha para com os materiais em si, mas sim no que estes materiais em conjunto representariam no final. Para materializar os pensamentos optei por usar algodões por dentro do crânio pois queria passar a ideia de “abstratez”, ou seja, algo que ainda não é real e palpável. Coloquei também uma iluminação dentro da cabeça para ressaltar o preciosismo daqueles devaneios todos. Já para representar essa tal dificuldade de me expressar oralmente utilizei de palitos de dente formando uma grade entre os lábios e dentre eles alguns vestígios de algodão para demonstrar o indivíduo tentando expressar aqueles pensamentos, sem sucesso. Enfim entre as mãos está aquela imaginação botada em prática, representada por figuras geométricas tridimensionais feitas com cartolina que buscam representar solidez, ou seja, algo real e que define meu principal meio de expressão: a arte. Para fazer as mãos utilizei de luvas de látex, os lábios e nariz foram feitos de massa biscuit, o crânio na verdade é uma lata de lixo de plástico e a tinta utilizada foi uma spray cinza escuro.

A construção do trabalho até conseguir ter a ideia realizada foi uma jornada bastante desafiadora. Foram horas de autoquestionamentos e de buscas por referências. Porém quando cheguei a conclusão de que tudo que foi pensado para me autorretratar realmente é real e representativo do meu “eu” foi algo muito libertador e que revelou coisas que estavam na cara e eu nunca tinha parado para refletir a fundo. A construção da ideia foi bem natural e fluida depois de conseguir identificar estes traços da minha personalidade que foram materializados, porém na parte da realização esbarrei em dificuldades técnicas de 3D pois não sou muito familiarizado com esta área. A intenção ao começo de tudo era também representar uma ligação da imaginação com a boca e a mão através de um fio para ficar mais claro os meios de expressão e no que eles convertem os pensamentos, contudo encontrei objeções. O nariz e lábios também não ficaram refinados, mas no final gostei do resultado e acho que representou bem o que quis passar.