O piseiro é um estilo musical com influências do forró, surgido no Nordeste, mais precisamente na Bahia. Teve seu auge nacional durante a pandemia, revelando nomes como Zé Vaqueiro, Tarcísio do Acordeon, Barões da Pisadinha e João Gomes, que é o foco deste texto.
Acompanho João Gomes desde 2021 e, nesses quatro anos, venho observando sua flexibilidade musical. No início, ele parecia apenas mais um cantor promissor de piseiro, mas havia algo de diferente nele. Em seu primeiro álbum, Eu Tenho a Senha, o cantor apresenta uma releitura da música Mete um Block Nele, de Luiz Lins e West Reis, nomes ligados ao rap e trap. No ano seguinte, no álbum Digo ou Não Digo, fez releituras de De Janeiro a Janeiro, de Vanessa da Mata, e Me Adora, da Pitty, ambas de estilos totalmente distintos do seu.
Mas foi no álbum De Norte a Sul que ele realmente mostrou que "tem a senha". O disco é composto por diversas releituras de artistas como Delacruz, Ivete Sangalo, Rachel Reis, Roberta Campos, Mallu Magalhães, Flora Matos, MC Gabzin, entre outros. Todas essas versões são adaptadas à realidade e vivência do persona/eu lírico vaqueiro, manifestando sua identidade e originalidade.
Para mim, uma das nuances de ser um artista diferenciado é conseguir transitar por diferentes estilos, e é justamente essa capacidade de beber de outras fontes, fora do forró, que faz de João Gomes um dos artistas mais versáteis da atualidade, digo isso com tranquilidade — e já deixo claro, isso está longe de ser bairrismo. Vale destacar também que ele é um dos poucos artistas do gênero que traz inúmeras referências femininas em seus álbuns, o que o torna ainda mais foda.
Essa percepção de que João é um cantor diversificado não é apenas minha, é só observar com quem ele já colou: Gilberto Gil, BK, Pabllo Vittar, Lulu Santos, MC Poze do Rodo, Joelma, Joyce Alane, Vanessa da Mata, entre outros. Isso só reforça que João Gomes está muito além de ser apenas mais um cantor de piseiro, ele é na verdade um dos artistas mais completos da cena musical atual.