Ser criança é engraçado! Quando eu era mais nova, vivia meio triste por ser uma das primas, sobrinhas e/ou netas que não morava próximo à família materna. Por isso, me sentia menos baiana, e ter nascido na Bahia, para mim, sempre foi sinônimo de muita alegria e orgulho. Acredito que tenho esse sentimento por causa do meu pai; ele sempre foi muito orgulhoso de ser quem era, ser paraibano, e isso, de certa forma, passou para mim.
Mas, quando criança, me sentia um pouco distante do sentimento de pertencimento, tanto de espaço, por morar em Minas Gerais, quanto culturalmente, por não consumir a cultura da minha região. Uma vez que, quando comecei a escutar música e ter uma noção bem superficial dos artistas que eu gostava e do estilo com que mais me identificava, ficava muito chateada por não ouvir nenhum artista da Bahia além de Léo Santana e Ivete Sangalo. E agora, generalizando o Nordeste, posso contar nos dedos bandas e artistas que tocavam na minha infância, como Calcinha Preta, Chiclete com Banana, Aviões do Forró, Silvano Sales, Banda Calypso, Forró do Muído, Asa de Águia, Igor Kannário, Trio Nordestino, Caju & Castanha – e com certeza esqueci de algum no caminho. Mas o fato é que, apesar de ouvir, conhecer e saber cantar, não eram pessoas que eu escutaria com 9-11 anos e com as quais me identificaria.
E ser criança é engraçado porque, se eu não vejo, não existe – e era assim que eu pensava. Quando comecei a gostar de funk, reggae e "músicas rápidas" (que eram músicas ali do hip hop e subgêneros que eu nomeei assim por não saber nada de gênero musical), o que tinha na minha playlist era majoritariamente artistas de São Paulo e, depois, uns gatos pingados do Rio. Zero mulheres além de Anitta e Ludmilla, mas sempre música brasileira, apesar de, na época, não conhecer a MPB. Meu sentimento era de insatisfação com essa situação. Por isso, mencionei que, se eu não vejo, não existe, pois, na minha cabeça de criança, achava que os artistas baianos não produziam nesse estilo – sendo que o buraco, na época, era bem mais embaixo.
Chegamos ali nos 14 anos, e comecei a conhecer um pouco dos artistas nordestinos por conta do RapBox. E, novamente, o assunto é sobre música e afeto!!! Quando comecei a ouvir Diomedes Chinaski e Baco, endoidei, fiquei meu Deus, fiquei feliz, fiquei muito feliz. E, nesse momento aí, foi a hora em que comecei a entender muita coisa de política pelas músicas, aquela épocazinha do "Fora Temer".
E agora ai aos 20 e poucos anos, não cabe em mim o sentimento quando vejo que dentro do estilo de música que eu mais gosto de ouvir, agora é um espaço ocupado por artistas nordestinos. E um adendo importante tem mulheres ocupando esse espaço! Aquele sentimento que eu sentia quando mais nova foi se tornando um outro sentimento. Ainda me sinto bem afastada mas ouvindo música consigo enxergar esse sentimento de outra forma. FODASE VANDAL MEU NOME É NAZTYH!!